ESQUIZOFRENIA E COVID-19: DEMANDAS APRESENTADAS POR MÃES E FAMILIARES
“ESQUIZOFRENIA E COVID-19: DEMANDAS APRESENTADAS POR MÃES E FAMILIARES”
Por: Luciene Redondo e Sarah Nicolleli
O impacto do novo coronavírus é ainda mais trágico quando anterior à pandemia, a realidade das políticas de saúde, assistência social e saneamento básico já são sucateadas, frágeis e insuficientes ao contingente populacional. Dificuldades de acesso a consultas com psiquiatra e outros profissionais essenciais na saúde mental, são realidades infelizmente já conhecidas das famílias de pessoas com esquizofrenia que dependem de atendimento do SUS nos diversos estados brasileiros. A pandemia evidencia a desassistência e estigma que sempre existiu aos portadores de doenças mentais e intensificam no ambiente familiar, preocupações legítimas sobre a capacidade de atendimento especializado durante o estado de calamidade pública e, na ocasião de uma internação, as reais condições locais para manutenção também do tratamento psiquiátrico.
Entre os dias 13 e 23 de Abril de 2020, a AMME realizou uma pesquisa com as mães, familiares e amigos de pessoas com esquizofrenia, divulgada em seus canais de comunicação.
Elaborada pela assistente social voluntária da AMME (Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia), Luciene Redondo, esta pesquisa teve como objetivo identificar as necessidades das famílias de pessoas com esquizofrenia no Brasil, durante o período de calamidade pública de saúde devido ao coronavírus (COVID-19), para estruturar estratégias de atendimentos para AMME e apresentar reivindicações às autoridades competentes, sobre as necessidades e especificidades desta população. As respostas desta pesquisa foram coletadas entre os dias 13 ao dia 23 de Abril de 2020, durante período de quarentena no Brasil e estado de calamidade pública decorrente a pandemia do novo coronavírus (COVID-19). No último dia desta pesquisa (23/04/20), o Brasil tinha 49.492 casos confirmados da doença e 3.313 óbitos.
Através de formulário online (Google Forms), 385 pessoas de 15 estados brasileiros, que possuem familiares e amigos com esquizofrenia, responderam ao questionário divulgado pela AMME em suas redes sociais.
Entre os resultados obtidos, somente 7 pessoas (1,8%) com esquizofrenia tinham confirmado diagnóstico do novo coronavírus e, 137 pessoas (35,6%) declararam estar no grupo de risco por comorbidade clínica pré existente (problemas cardiovasculares, diabetes, hipertensão, asma, bronquite, doenças autoimunes, câncer).
As principais dificuldades no tratamento da esquizofrenia, encontradas pelos familiares durante o período da pandemia são: 43,6% Conseguir consulta com outros profissionais de saúde, exceto psiquiatra. Exemplo: clínico, psicólogo, terapeuta ocupacional. 41,3% O convívio familiar durante a quarentena. 38,4% Seguir as recomendações de isolamento social. 35,8% Conseguir consulta com Psiquiatra no SUS. 34,5% Seguir as orientações de higiene e/ou uso de máscara.
Segundo respostas obtidas, as maiores necessidades da pessoa com esquizofrenia e de seus familiares durante a pandemia, são: 62,6% Necessidades de saúde: medicação, consultas básicas e de especialidades. 59,5% Continuar o tratamento psiquiátrico. 56,9% Necessidades financeiras: pagamento de despesas, contas, trabalho e renda.
As principais preocupações dos familiares de pessoas com esquizofrenia, caso estes, venham precisar de internação decorrente ao novo coronavírus, são: 69,9% Que não tenha no local equipe especializada em saúde mental; e 66,5% Que ele(a) fique só, sem poder receber visita.
Considerando os resultados obtidos nessa pesquisa, em nome da AMME e a favor de todas as pessoas com esquizofrenia no Brasil e outros transtornos mentais graves, elaboramos propostas que levaremos às autoridades competentes:
1. Garantia de continuidade do tratamento de saúde mental durante a pandemia: proibição do cancelamento de consultas médicas e multiprofissionais – das pessoas com transtorno mental e/ou deficiência mental e psicossocial – nas redes de atendimento de UBS, AMA, AME, CAPS, Hospitais, Centros de Saúde Mental, Clínica-Escola e Ambulatórios universitários, vinculados ao Sistema Único de Saúde.
2. Garantia de Atendimento Domiciliar pelo Programa de Saúde da Família (PSF) e demais estratégias de Acompanhamento Terapêutico (AT) e/ou da Pessoa com Deficiência (APD, NASF): visitação regular no domicílio da pessoa com transtorno mental e/ou deficiência mental e psicossocial, por profissionais da rede de saúde: oferecendo informações de prevenção ao COVID-19, acompanhamento de grupo de risco, campanha de vacinas, matriciamento de rede, suporte psicossocial.
3. Fornecimento gratuito de equipamentos de proteção individual (máscara) para população.
4. Ampliação do acesso ao pagamento de Auxílio Emergencial (Lei 13.982/20) para todo cuidador(a)/familiar de pessoa com deficiência mental/psicossocial/transtorno mental, comprovável por indexação à solicitação do benefício, de documento declaratório de dependência econômica (emitido em Cartório de Registros Civil), ou Termo de Curatela/Interdição (emitido pelo Poder Judiciário), ou ainda, laudo psicossocial emitido por dois ou mais especialistas na área da deficiência; conforme Lei 13.146/15 (art.2º).
5. Garantia de acompanhamento familiar, durante todo período necessário de internação hospitalar, da pessoa com deficiência mental/psicossocial/transtorno mental.
6. Garantia de atendimento de psiquiatra, em todos hospitais de campanha e/ou de atendimento geral de pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19; durante todo processo de avaliação, admissão, internação (quando houver), tratamento e alta; bem como, a manutenção da medicação psiquiátrica fornecida pelo local.
7. Inclusão temporária das famílias e/ou pessoas com esquizofrenia, transtornos mentais, deficiência mental/psicossocial nos programas assistenciais administrados pelos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), mediante comprovação por laudo médico e psicossocial: Bolsa Aluguel, Tarifa Social e Cestas Básicas.
Agradecemos a todos que participaram desta pesquisa e torcemos para que juntos possamos experimentar mudanças positivas nas políticas de saúde mental. Abaixo, selecionamos alguns comentários que recebemos dos participantes. Se possível, fique em casa. Se sair, use máscara e cuide de quem você ama. Saúde e paz!